19 de agosto de 2015

Hoje a Noite Não Tem Luar

A conheci no ônibus na época em que trabalhava de cobrador. Ela era linda. Daquelas que nos faz perder o folego e desejar construir uma vida ao seu lado. Até hoje me pergunto como foi que uma mulher daquelas deu-me atenção. Conversávamos todos os dias enquanto ela fazia seu rotineiro trajeto para o trabalho. 
Comecei a namorar Mariana no começo do outono e antes do inverno chegar, já havíamos jogado nossas antigas vidas para o alto e fugimos para morar na praia. Vivíamos em clima de férias, trabalhávamos em empregos tranquilos, na maioria das vezes em quiosques em frente ao mar. Fazíamos amor todas as noites e é claro que isso resultou no nascimento da criança mais linda que já existiu: Isa(bela).
Claro que com uma nova vida, vieram novas responsabilidades e a falta de dinheiro começou a nos afetar. Caímos de volta na realidade e resolvemos voltar para São Paulo.
Um bebê recém nascido e as despesas da viagem, nos permitiu alugar uma casa pequena na periferia. Arrumamos o lugar como nosso lar, pintamos as paredes, instalamos estantes para os CDs e livros, organizamos o quarto para nós e para Bela e aos poucos retomamos a rotina trabalho-casa. 
Tudo ia relativamente bem, pois apesar do sonho praiano ter acabado, ainda poderíamos contar com a família por perto. Contudo, Mariana foi mudando seu jeito de ser. Não sorria tanto quanto antes, passava a maior parte do tempo desarrumada e tristonha, sempre que podia, saia de casa e voltava apenas ao crepúsculo. 
Percebi que o relacionamento não era mais o mesmo e que para melhorar teria de dar o melhor de mim. Foi o que fiz. Trabalhava em dois empregos para dar um pouco de conforto à família. Quando estava em casa cuidava de Bela, para Mariana descansar, Levava-as para sair todos os finais de semana e procurava não comentar sobre problemas. Tudo em vão.
Mesmo com incontáveis esforços, mesmo com olheiras extremamente fortes, mesmo sofrendo aguentei firme e não pulei fora, por amor. Não foi o suficiente. Dei o meu melhor e isso não foi o bastante para impedir Mariana de voltar correndo para a casa dos pais, abandonando-me na casa vazia apenas com objetos que ela não gostava.
Levou os livros, os discos, a felicidade. Levou Bela. 
Não sei dizer se já superei, pois ainda pego-me pensando em como seria se tudo tivesse tomado outro caminho. Digo apenas que depois delas, nunca mais fui o mesmo. Comecei a beber o dobro de antes, saía e transava com mulheres sem rostos, arrumava brigas com quem não merecia. Tornei-me o homem que prometi nunca ser. 
Hoje Bela faz 10 anos. Não há um dia sequer que não pense nela.

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