30 de novembro de 2015

Mais do mesmo

Ela já andava cheia de tudo a algum tempo. Não via mais sentido em muita coisa, como estudar, trabalhar ou sorrir. Aos finais de semana ia à bares e, enquanto embriagada, questionava o tolo comportamento de todos à sua volta. A cada dia, menos tinha a comemorar. Até mesmo as rotineiras reuniões familiares, passaram a ser adiadas, e quando ocorriam, não havia mais a mesma magia. 
Aos poucos foi se afastando dos amigos. Na maioria das vezes, por conta de discussões banais ou divergência de opiniões. Seus livros, músicas e filmes, passaram a ser sua única companhia em noites frias e, de certa forma, isso à confortava. A solidão passou a ser sua melhor amiga. 
Em seu íntimo, esperava ser resgatada desta zona de conforto em que se colocou, mesmo sabendo que a única pessoa capaz de o fazer, era ela mesma. Sabia que com o nascer de um novo dia, a melancolia costumeira poderia se transformar na libertação tão desejada, talvez até a tornaria uma pessoa melhor. Poderia até mesmo se apaixonar, viajar, aprender a dirigir...
Em seu período de isolamento, percebeu infinitas coisas boas e ruins, como o conforto em permanecer no escuro e a superestima com que as pessoas dizem do dia. Ela, particularmente, sempre preferiu o mistério da noite. Desenvolveu o terrível habito de fumar, apesar de quase sempre odiar o sabor da fumaça em sua garganta. A mania de mexer constantemente no cabelo, foi substituída pelas unhas roídas. Consequência da ansiedade sem motivos.
Apesar dos pesares, passar um tempo com ela mesma, a fez crescer emocionalmente. Agora, seu modo de ver a vida, combina com seu novo corte de cabelo, mas sua angústia, permanece como seu velho guarda-chuva amarelo, ali, guardado, esperando para sair do armário durante a próxima tempestade.