23 de maio de 2025

Poeira espacial

Me questionaram o motivo de sentir tanta ansiedade quando converso sobre a minha escrita. 

Insegurança? Vergonha? Medo?

Acho que um pouco de tudo, na verdade. 

Hoje, durante o banho, refleti sobre essa pergunta e cheguei a uma conclusão óbvia - que sempre esteve muito clara, mas que nunca elaborei para externalizar.

Para mim, ter pessoas lendo as minhas palavras é como se eu permitisse que estranhos se sentassem dentro da minha cabeça e enxergassem minha intimidade sem restrições. E, porra, a minha mente é uma bagunça! Como diabos vou organizar minhas ideias para receber pessoas se nem eu mesma consigo entender grande parte delas?

Para além disso, eu sou ciumenta pra caramba com as minhas coisas. São as minhas palavras, a minha mente. A minha bagunça! Tenho pavor de abrir essas ideias e o leitor não compreender a dimensão de cada uma delas, entende? 

E sim, eu tenho noção da insignificância dos meus textos, da minha obra. Contudo, quando a interpretação se encaixa, sei que é capaz de bagunçar certezas, tipo um estopim na mente de quem lê.

Pequeno, mas capaz de formar mundos...


Algo como poeira espacial.


21 de maio de 2025

Muscle memory

Voltei.

Não por ter muita coisa para falar, mas por sentir falta de só... escrever por escrever. Sem tanta pressão. Sem querer lucros ou visibilidade. Só escrever. 

Então eu voltei.

E talvez eu nem fique.

Enfim, a vida têm sido interessante. Minhas versões anteriores não acreditariam se eu as chamasse para tomar uma cerveja e contasse tudo. 

A Bruna adolescente amaria cada uma das histórias e ficaria feliz em saber que finalmente passamos a gostar do reflexo do espelho. Por outro lado, a Bruna dos 20 e poucos, julgaria cada um dos meus atos e, provavelmente, se questionaria em que momento o rock foi substituído por variações de rap que não envolvem Racionais. 

É, eu sei. Aos 20 era inconcebível imaginar gostar de diferentes gêneros sem abrir mão da personalidade e blábláblá. Uma chatice.

Ainda assim seria divertido ver essas versões e me orgulhar de dizer que estou exatamente onde queria estar. E, ao mesmo tempo, nunca nem sonhei em chegar.

Isso aqui tá uma confusão danada, tal qual as páginas rabiscadas do meu diário. 

Masssss, é de mim para mim. A Bruna do futuro vai entender muito bem o que cada um desses devaneios significa e com absoluta certeza vai gargalhar lembrando de como era meio tola - mas imensamente feliz.

É... talvez eu tenha voltado.

30 de janeiro de 2025

Hag


Your eyes they have this glowingYou were more than I deserveAfter all our shame and sufferingI turned my back to everything I really wantAnd put you first
Are we really in love, completely in loveGet mention and make your skin start to crawlStarted off living in BrooklynIt unfolded like a dreamDazzled by the very thought of itLike the way dreams are supposed to be
If I'm not what's to comeI will sleep with itI will carry them onAnd we will lose in the endOnly start the whole pattern over againOver again
Are you truly in love, absolutely in loveYou're happy enoughAre you fully in loveIf I'm not the point in carrying onWhy spend half the time indifferentAnd the other half loneI will live with my regretsLearn from mistakes and be done with themStart the whole thingStart the whole thing over again

14 de janeiro de 2025

Drogas

Meu olho tem tremido à beça.

Hoje, enquanto você estava fora, lidando com o desafio de contar a notícia para a sua família, eu cozinhei para mim, assisti vídeos que gosto e chorei.

Pensei em começar a organizar as coisas para a mudança. Ao menos uma parte. Mas não consegui.

Quando abri o guarda-roupas e olhei as malas, desabei pelo que parecer ser a milésima vez só nessa semana. Perguntas como: QUE PORRA VOCÊ ESTÁ FAZENDO DA SUA VIDA, ecoam na minha cabeça em looping e eu simplesmente não consigo calar todas as vozes.

Acontece que essas mesmas vozes ficam quietas durante o dia, quando minha mente está limpa e consigo pensar com clareza. Sim, eu sei que está ficando batido dizer que as noites são difíceis. Mas, não sei viver de outra forma se não colocando a bagunça da minha mente em palavras idiotas em uma página do Word.

Eu sei que vai melhorar e essa dor vai passar. Para isso acontecer, no entanto, eu preciso começar a me organizar. A mudança vai acontecer e isso é um fato. Outro fato é que só de pensar em me mexer fico com vontade de me enfiar debaixo das cobertas e esperar por seu abraço quentinho.

Por que tudo é tão mais fácil quando estou no calor dos seus braços?

Por que é que só encontro abrigo no seu peito?

Que inferno! Eu odeio ser tão dependente assim.

Só queria que os dias passassem mais rápido para essa dor desaparecer de uma vez. Ou que o tempo parasse agora que estou decidida a ficar aqui, no nosso lar.

Queria tantas coisas...

10 de janeiro de 2025

Decisões

 A vida têm sido uma montanha-russa esquisita e muito cruel.

Pela manhã, eu acordo certa de muitas coisas, com decisões tomadas e com metas claras para viver o dia da melhor forma possível.

À tarde, eu me frustro por não ter executado nem metade das coisas planejadas e me perco em futilidades, procrastinando ou remoendo as intercorrências da vida.

Mas a noite... A noite é quando o bicho pega. Eu sinto a desesperança e solidão rastejando por toda minha pele, pinicando e provocando náuseas. É nesse momento que me pergunto como pude ser tão estúpida em achar que daria conta de viver assim, sozinha. Como pude jogar fora algo tão especial.

Sim, havia problemas. E sim, lá pela manhã, eu sabia o que era melhor para mim. À noite, por outro lado, quando a casa fica silenciosa demais e meus pensamentos gritam, percebo que a minha versão de mais cedo não sabia tão bem o que enfrentaria pela frente.

Eu tento pensar racionalmente e viver focando no depois, na hora em que o sol vai nascer e levar embora toda essa angústia. Mas o relógio parece discordar e têm trabalhado em modo lento, levando tempo demais em cada segundo.

Montanha-russa cruel.

1 de janeiro de 2025

Fim de tarde

Se você estivesse aqui, estaríamos, provavelmente, fazendo a nossa caminhada do pôr do sol.

Quando eu era criança, gostava de chegar da praia quando sol já estava quase indo embora, tomar um banho e comer um lanchinho da tarde enquanto minha mãe tentava, desesperadamente, desembaraçar meu cabelo.

Um pouco mais tarde, na adolescência, eu gostava de voltar para a praia depois do banho, só para ver o entardecer ali, bem pertinho do mar. Era um momento de reflexão (ou para espreitar meninos bonitos que pudessem achar poético uma garota introspectiva). Spoiler: ninguém nunca reparou porque eu era patética.

Já na fase adulta, nunca me prendi a costumes de final de tarde. Normalmente eu estava cansada demais para fazer qualquer coisa que exigisse as minhas pernas ou estava socializando com outras pessoas. Isso quando não me ausentava para tirar um bom e velho cochilo.

Até você chegar.

Quando você começou a frequentar a Ilha, queria te mostrar cada coisa ajudaram a tornar esse o melhor lugar do mundo para mim. O chalé azul. A lagoa da Coca-Cola. A ponte caída. A sorveteria. O mar pequeno.

E a cada caminhada, conversávamos sobre amenidades, fofocávamos sobre a vida dos outros participantes da viagem e até discutíamos sobre planos de morar aqui. Sempre com risadas e muito amor.

Como um casal de aposentados que aproveita, genuinamente, a companhia um do outro.

Nesse exato momento, estou assistindo ao pôr do sol do quintal, sem a menor coragem de sair para explorar sozinha. Não tem graça sem você. Se eu insistisse, tenho quase certeza de que viraria uma lenda urbana denominada “Chorona do Fim de Tarde” e isso sim seria tremendamente patético.

Você ajudou a tornar esse lugar ainda mais especial do que era. Por mais que eu ame cada fase do fim de tarde, arrisco dizer que as nossas caminhadas se tornaram a minha favorita.

Queria que estivesse aqui.

11 de abril de 2023

Dia 3: O que te deixa triste, ou negativa

Essa é fácil. Eu fui criada na periferia de São Paulo e cresci correndo na rua, brincando de todas as brincadeiras possíveis. Foi uma infância feliz, apesar de ouvir histórias sobre a pobreza, violência e desinteresse do governo pela nossa região. Esses problemas não me afetaram diretamente porque tive a sorte de crescer em um lar estruturado que, apesar das dificuldades, sempre fechou o mês com comida na mesa e crianças na escola. 

Já adulta, consegui cursar uma faculdade, ingressar no mercado de trabalho com um bom salário e, aos poucos, crescer na carreira. Mudei para o que chamamos de “depois da ponte” e finalmente conheci a qualidade de vida que um bom bairro pode proporcionar. 

Parece uma história feliz, você deve estar pensando. De fato é. Mas, toda moeda tem seus dois lados. 

Para mim, a coisa que mais me entristece é perceber como as famílias do extremo sul de São Paulo são negligenciadas. Dói muito perceber que a mesma sorte que eu tive não recaiu sobre as pessoas que cresceram comigo e que um salário mínimo não é suficiente para pagar todas as contas no fim do mês.

Dói ainda mais parar o carro no farol e ver uma criança, que poderia ter sido minha vizinha, pedindo um trocado debaixo do sol quente. Sinto culpa por estar no carro e sinto vergonha de evoluir sabendo que tantas outras pessoas estão em situações tão desumanas. 

É curioso como a revolta supera o sentimento de gratidão. Eu poderia discorrer por mais cinquenta páginas sobre a dor que a desigualdade social me traz, mas isso não nos levaria a lugar nenhum. Prefiro encerrar por aqui e manter a esperança de que um dia as coisas mudem para melhor. Tomara.


5 de abril de 2023

Dia 2: Algo que te contaram e você nunca esqueceu

Certa vez, num domingo cinza de primavera, aconteceu um churrasco na casa da minha mãe. Não é novidade esses eventos acontecem até hoje. Este dia, especificamente, ficou gravado na minha memória. Não pela diversão ou comida. Mas pela história que um homem me contou.

Deixa eu te ambientar brevemente: o quintal tinha um ar esverdeado, do tipo que recebeu muita chuva nos últimos dias. O cheiro era de terra molhada, apesar de não ter caído uma gota do céu. As pessoas já estavam se recolhendo, satisfeitas e se preparando para a semana. A música estava melancólica, com trilhas antigas levando o resto do domingo embora. 

Foi neste momento que o homem, já alterado pela cerveja, me perguntou se eu sabia o que era o horizonte. Eu, no auge dos 5 anos de idade, não sabia. Ele, com toda a calma do mundo, explicou: “Sabe quando os olhos não alcançam o fim do mar? Aquela reta lá no fundo? Aquilo é o horizonte.”

Nunca me esqueci do significado dessa palavra. Nem do homem que me explicou. Nem da música que tocava. 

O homem era meu pai. E ele morreu numa manhã cinzenta no mesmo horizonte do mar da minha imaginação.


14 de fevereiro de 2023

Dia 1: 10 coisas que te deixam feliz

1. Viajar para Ilha Comprida

Desde criança, tenho o privilégio de viajar para a casa do meu avô, na Ilha Comprida, sempre que posso. Em dias de colocar o pé na estrada, não me incomoda ter que acordar antes do sol ou fazer xixi três vezes antes de sair de casa. Amo principalmente as playlists para ouvir enquanto as paisagens urbanas são substituídas pelo ar interiorano. Atravessar a ponte de Iguape para finalmente chegar na Ilha é a sensação mais gostosa do mundo. Só perde para os fins de tarde com o cabelo molhado de mar enquanto espero minha vez de tomar banho rindo das palhaçadas da minha irmã. Que coisa boa poder passar um tempo com quem você ama em um lugar aconchegante.

2. Dias cinzas

Não me leve a mal. Eu amo dias ensolarados e suas infinitas possiblidades. Mas, não tem coisa mais gostosa do que um dia típico londrino. O ar de filmes de drama me dão um profundo aconchego, principalmente quando não tenho compromissos. São em momentos assim que gosto de comer algo quentinho, assistir filmes ou séries com um cobertor, me dedicar à leitura de um livro bom e, principalmente, aproveitar minha própria companhia. Dias cinzas são importantes para renovar nossas inspirações. Mas, poucas pessoas estão preparadas para essa conversa, e eu entendo.

3. Tardes de maio na casa da minha mãe

Tudo bem, poucas coisas na vida são tão gostosas como tomar um café quentinho e fofocar com a minha mãe e minha irmã nas tardes frias de maio. É a coisa que sinto mais falta de morar com elas. A sensação de pertencimento enchem meu coração e mal posso esperar pelo próximo encontro. O pôr do sol costuma encher a cozinha com uma luz dourada encantadora enquanto o cheirinho de pão assando com café passado esquentam qualquer friagem. 

4. A rotina do nosso apartamento

Entendo que muitas pessoas não gostam da rotina. Eu amo. Principalmente a constância do meu lar. Os dias são leves e nossos gatos nos divertem mais do que as séries que insistimos em assistir juntos, mesmo brigando para decidir os horários. O riso é frouxo, as conversas fluem e tenho vontade de deixar uma câmera gravando nossos dias, só para mostrar ao mundo que é sim possível ser feliz compartilhando o lar com um amor. Nem sempre nos entendemos, mas as piadas e as músicas são o contrapeso ideal dos conflitos pela louça suja. Cada dia é especial no nosso apartamento. E isso me faz feliz.

5. Churrascos com a família

Seja com a casa cheia das pessoas mais especiais da minha vida ou só um trio de mulheres fofoqueiras, os dias de churrasco na casa da minha mãe com certeza merecem um lugar especial nessa lista. São em datas assim que colocamos todas as histórias em dia, ouvimos as mesmas músicas de sempre e fazemos planos para os próximos feriados. São nessas datas que discutimos problemas, gritamos palavrões, entornamos cervejas e damos risada até o fim da tarde. Em alguns desses dias, relembramos o pai e mantemos sua memória sempre presente. Apesar da saudade, esses momentos nos unem.

6. Algumas futilidades 

Nem só de momentos em família consistem a minha felicidade. Existem coisas que ativam mais serotonina do que uma barra de chocolate, como fazer as unhas no salão, uma aula de natação, estar com os cílios e sobrancelhas em dia ou uma simples depilação. Essas pequenas coisas passaram a fazer parte da minha rotina quando comecei a me amar mais. Não posso dizer que superei todas as inseguranças, mas o autocuidado me ajudou a entender que não preciso estar magra para me sentir bonita. E isso é a mais fútil sensação de felicidade.

7. Fotografias

Seja tirar, posar ou olhar fotos antigas, a fotografia tem um significado especial para mim. São através delas que revivo momentos que poderiam ter sido engolidos pelo tempo. É por esse motivo que você sempre vai me ver com o celular apontado discretamente para alguma situação em rolês ou enchendo o saco para tirar uma foto em grupo. Parar um tempo para olhar fotos antigas é, com certeza uma felicidade genuína, mesmo com a melancolia causada pela nostalgia.

8. Planejar e executar 

Uma das coisas que minha mente ociosa mais gosta de fazer é planejar coisas. Sejam elas ideias grandiosas ou apenas uma grande faxina no guarda-roupas, sempre ativam meu lado maníaca e empolgada com as possibilidades. Estar parada não é uma opção. Planejar os próximos passos da minha vida me motivam a levantar da cama pela manhã e isso pode ser muito bom ou muito ruim. Por isso, para estar nesta lista, fiz questão de salientar que fazer planos não bastam. Quando eu finalmente consigo executar uma ideia, sinto tanta felicidade que poderia facilmente correr uma maratona. Nada me dá mais alegria do que ver uma lista com ‘checks’ em todas as tarefas.

9. Andar de bicicleta

Apesar de não conseguir manter uma constância, os passeios de bicicleta pelo bairro nunca me causam arrependimento. O vento no rosto, a velocidade, as paisagens e conhecer novas ruas me fascinam. Esse é um item de felicidade que está presente desde a infância, quando meu pai me ensinou a dar as primeiras pedaladas sem as rodinhas e pude experimentar a liberdade. Desde então, já pedalei quilômetros na Ilha e por aqui, no bairro de Veleiros às margens da represa. 

10. Ler e escrever

Por último, mas não menos importante, me dedicar a leitura de um bom livro faz com que eu me desconecte de qualquer realidade para viver uma história que não é minha. Ler sempre me inspira a fazer outra coisa que ativa uma grande felicidade no meu cérebro: escrever. Concluir um conto bem escrito, reler e sentir orgulho merece com absoluta certeza estar nesta lista. Nem sempre o conteúdo sai perfeito. Na verdade, quase sempre encontro defeitos que preciso me conter para não corrigir. Mas, reconheço que a escrita é um dom, assim como desenhar, tocar instrumentos, cozinhar ou cuidar do jardim. Esse é o meu dom e, mesmo que não seja bem-feito, está aqui.

 

6 de janeiro de 2023

Uma carta de amor

Certo dia, fui convidada para o aniversário de alguém em um sítio qualquer cheio de jovens bêbados. Topei, obviamente. Foi nesse sítio que notei pela primeira vez um garoto com o sorriso mais lindo que já vi na vida. Ele carregava uma JBL barulhenta em uma mão e na outra uma latinha de Budweiser.

Uma semana depois, dávamos nosso primeiro beijo. Tudo encaixou. O toque, os lábios, os pelos. 

Que sorte a minha ter topado aquele sítio.

Alguns anos depois, eu e aquele garoto - hoje um homem - aceitamos compartilhar a vida. Criamos laços, gatos e dividimos contas. Nossas risadas compensam a tensão da rotina e a felicidade transforma em garoa qualquer tempestade.

Eu amo suas risadas. Amo a forma como seus olhos gentis se espremem durante uma gargalhada causada por um dos nossos gatos. Amo brigar por quem vai lavar a louça ou estender a roupa. Amo brigar com você sobre as meias espalhadas pela casa. Amo passar horas escolhendo uma comida no Ifood ou um filme para assistir. No final, sempre dormimos no começo ou escolhemos um miojo com nuggets. Eu amo a nossa vida.

Acho importante escrever sobre as fases boas também, né? E hoje, depois de um longo dia de dores, pude experimentar, novamente, uma bela dose de amor. 

Parafraseando o Edward Cullen, nenhum espaço de tempo com você seria suficiente... comecemos com o para sempre. 

Obrigada por tanto.

Com carinho,

B.

5 de janeiro de 2021

Vinte e seis

Minha vida sempre foi regida sob ansiedade e planos para o futuro. Por ser criar metas e sonhos sobre quem eu queria ser, muitas vezes deixei de aproveitar o presente. Na verdade, arrisco dizer que não sei, de fato, viver no presente sem me preocupar com o que virá amanhã.

Evito beber demais com medo da ressaca. Não me permito gastar demais por saber que as contas do próximo mês serão altas. Nunca fiquei solteira por um longo período por insegurança de nunca encontrar alguém legal para dividir uma vida.

O ponto é que eu planejei cada passo até os 25 anos acreditando fielmente que nessa idade teria todas as coisas que sempre sonhei: o corpo lindo, cabelo incrível, carro novo, apartamento, emprego estável e um passaporte cheio de carimbos. Acontece que os 25 chegaram e se foram num piscar de olhos e estou às vésperas dos 26 sem ter riscado nada da lista.

Nunca pensei que chegaria até aqui. Não tenho planos ou sonhos para os próximos anos e ainda não decidi se isso é bom ou ruim.

Sei que o que conquistei até agora, é muito mais do que posso assimilar. De todos os devaneios até aqui, sinto que o que vivo hoje é onde deveria estar. Então, estou ansiosa para saber o que me espera pela frente.

Minha nova meta é criar planos anuais. No próximo ano, quando estiver com os pés nos 27, vou poder olhar para trás, entender o que pude realizar e agradecer com carinho tudo que vivi. 

Até lá, vou tentar viver um dia de cada vez, aproveitar minha própria companhia, reclamar menos e tentar ser a minha melhor versão.  

Que venha os 26!


2 de dezembro de 2020

Asleep

Foi, sem dúvidas, um dos momentos mais perturbadores da minha vida. Talvez tenha sido, de fato, o pior momento. 

Lembrar do meu desespero, choro e palavras atropeladas implorando para você não fazer isso comigo, hoje me parecem falas de um filme que odiei.

Eu fecho meus olhos e encontro os seus, perdidos e desnorteados. Implorando por ajuda. Me dizendo que desistiu, mas só por enquanto. Não importa o barulho que escute, meus ouvidos insistem em ouvir a maldita música que você escolheu como trilha sonora para acabar com a nossa vida.

Absolutamente todas as coisas me levam de volta para a sala de espera do hospital, quando finalmente tomei coragem para ler aquilo que você decidiu deixar como últimas palavras. Não importa onde eu esteja, não consigo conter a onda de pânico por pensar que seria tarde demais se eu não tivesse sido acordada e atraída até você.

Tenho vivido num eterno pesadelo, tendo certeza que a qualquer momento vou despertar de um sonho e me dar conta de que não consegui te salvar. De que minha mente criou uma ilusão para eu lidar com o luto e insuficiência por não ter podido te ajudar.

Eu te forçaria a vomitar um milhão de vezes sem me preocupar em me sujar. Eu sugaria toda a sua tristeza e confusão, para te salvar. Eu lutaria contra palhaços, aranhas, demônios, mil vezes para te ter viva. Eu percorreria o mundo inteiro para te amparar em momentos de crise.

Eu cruzaria o inferno por você. 


E mesmo assim, ainda sinto que não é o bastante. Ainda choro de soluçar quando imagino minha vida sem você aqui. 

4 de outubro de 2020

Você

Hoje, depois que você foi embora, tive um dos choros mais sentidos da minha vida. Pela primeira vez, em muito tempo, não consegui abaixar o tom e me preocupar com os vizinhos. Não tive como chorar baixinho. Chorei alto, tentando vomitar a solidão que se enroscou dentro de mim, me impedindo de ter fome, sede ou sono.

Hoje, pela primeira vez em anos, esqueci quem eu sou, onde estou e quais minhas motivações. Caminhei pela casa sem rumo, busquei você em todos cômodos e sufoquei por não te encontrar. 

Você foi embora e levou um pedaço de mim junto. Um pedaço essencial que me impede de sorrir. 

Eu sei que deveria encontrar paz em mim mesma, saber lidar com a sua ausência, mas o fato é que não consigo. Te ver partindo todos os domingos, me faz morrer um pouquinho a cada semana. 

Eu amo você, mais do que um dia imaginei amar. Não vejo a hora de te ver chegando para ficar.

Seu lado da cama sempre estará quentinho, te esperando.

E sim, você estava certo sobre escrever. Sempre está.

18 de novembro de 2018

Anything

Li em algum lugar que quanto mais alto o grau de conhecimento sobre o mundo, menos feliz o ser humano se torna. O artigo tentava justificar o crescimento da taxa de suicídios no Japão, país conhecido por seu povo evoluído e super inteligente que, apesar da tecnologia e infraestrutura, deixa a desejar na qualidade de vida e coisas que promovem a tal da felicidade.
Não é bem sobre japoneses e taxas que vim escrever. É mais sobre a velha sensação de vazio no peito, angústia e solidão que só um domingo a noite com a casa vazia podem promover. 
Pois bem. Depois de um final de semana incrível, onde me dei a oportunidade de conhecer pessoas novas e jogar conversa fora com os amigos antigos, criar histórias e morrer de rir, mais uma vez me pego completamente sozinha. De hora em hora apanho o celular, rolo a tela de contatos em busca de alguém para conversar e quebrar o silêncio, mas não encontro ninguém. Estão todos ocupados com suas vidas ou não se importam o suficiente. Não julgo, afinal nos últimos anos era eu quem estava na rotina perfeita de vida plena. Cada um vive o seu momento e, é uma pena que eu não esteja no meu melhor. Acredito até que o meu melhor momento já passou e eu não soube aproveitar o suficiente.
Não me entendam mal, eu não me arrependo das minhas decisões, só sinto falta do frio na barriga, de sentir vontade e de ter esperança. No momento, me vejo andando completamente sem rumo, virando noites em bares, bebendo até preencher todo o vazio e vomitando minhas angústias no dia seguinte de ressaca. 
Não enxergo um futuro. Não tenho planos vívidos e não faço questão de tentar cria-los. 
É complicado tentar entender. Não estou exatamente triste ou com vontade de chorar. Também não estou feliz ou rindo atoa. Meus sentimentos estão nulos, sem uma classificação aceitável. É como estar no limbo ou em órbita, sempre flutuando numa cena abstrata da minha vida. 
Assisto todos a minha volta tomando rumo e criando laços, escrevendo suas histórias. Uns engatando em relacionamentos sérios, outros casando e gente tendo bebês. Quando os vejo, sinto uma imensa onda de calor e felicidade por cada um deles, principalmente aqueles que acompanho a tanto tempo. Me imagino em seus lugares e não sinto nada. Não gostaria de estar ali, mas também não gosto de onde estou. Me pergunto até quando ficarei assim e se um dia qualquer amanhecerei com expectativas novas. 
Juro que se isso acontecer, volto aqui para contar.

7 de agosto de 2015

Uma Breve Passagem De Uma Alma Pertubada

Sinto-me perdida onde deveria encontrar-me. Sinto que perdi cada um de meus milhares de sonhos e sei que sem eles não tenho motivações. Cada dia é um dia. Parei a tempos de conta-los. Dizem ser apenas uma fase, que em breve conquistarei meus objetivos e terei novas perspectivas, mas tudo que sinto no momento é um imenso vazio.
É isso. Vazio, escuro, plenitude. Nem feliz, nem triste. Apenas existindo. A tempos não sei o que é sorrir sinceramente ou dançar uma música ruim. Sequer me lembro qual foi a última vez que meus pés tocaram o mar, logo eu que tanto apreciava a liberdade de dirigir até o litoral.
As horas têm se arrastado e as paredes brancas de meu quarto ficam cada vez mais monótonas. Preciso desesperadamente libertar-me dessa solidão, desse marasmo sem fim. Preciso de um motivo para nascer de novo, crescer, amar, ser feliz.

7 de junho de 2015

Decisões

Decidi que não vou mais me importar. Tomei essa decisão enquanto gritávamos um com o outro sobre a importância que eu dava às curtidas nas fotos da sua ex no facebook, ou sobre você querer sair com outras garotas (mesmo sem segundas intenções). Decidi que o amor próprio vem com o amadurecimento e com as escolhas erradas. Decidi que prefiro sorrir à chorar e sou muito mais me arrumar e sair sozinha do que esperar por um convite seu. Decidi também que se você não liga, por quê eu devo me preocupar? Por que sou eu quem deve dar sempre o primeiro passo? 
Decidi que a partir de hoje, eu sou a primeira em minha vida, que sou o centro do meu mundo e que não aceitarei mais ser substituída pelo bar, pelas amigas ou qualquer que seja a coisa que você dê mais importância do que à mim. Sei que parece drama ou que talvez esteja jogando tudo para o alto, pelo contrário. Faço isso por mim, por você, por nós. Faço isso para quem sabe reduzir as discussões banais ou a angústia que sinto todas as vezes que você sai sem mim. Criei coragem finalmente para me colocar como protagonista da minha própria história e ser feliz sem medo do amanhã, sem medo da solidão, sem medo do fim.

12 de maio de 2015

Lembranças

Minha vida nunca foi lá essas coisas anormais, com histórias incríveis, assassinatos em família, traições ou outras coisas surreais que só acontecem em ficções. Pelo contrário, a beleza dela é a simplicidade e autenticidade. 
Nunca tive muitos amigos. Talvez por não sair tanto ou não me achar divertida o suficiente para andar com a galera legal. Por esse motivo, sempre fui muito ligada com a minha família. Que eu lembre meu primeiro melhor amigo foi meu pai.
Confesso que não tenho muitas lembranças dele, o máximo que consigo voltar é quando eu tinha por volta dos quatro anos, quando minha mãe estava no hospital se recuperando de uma cirurgia da vesícula e eu estava morrendo de dor de garganta. Ele com toda a calma e paciência apanhou uma maça, partiu-a no meio e com uma colher, raspou-a toda e deu-me de uma forma que a dor não era sentida. Incrível como um simples gesto de carinho pode ficar para sempre na memória de uma criança. 

Ele sempre foi uma pessoa que todos podiam contar, dono de uma personalidade tão bondosa que qualquer um que o visse, diria que sua aura brilhava. A coisa que mais gostava de fazer era sentar num domingo, acender a churrasqueira, colocar a cerveja pra gelar e bater papo até a hora do fantástico. Aquela famosa vinheta do programa, anunciava que o final de semana acabara. 
Lembro-me que em uma ocasião dessas, estávamos apenas nós dois no quintal, o dia era cinzento, mas não frio, daqueles típicos do começo de outono. Ao fundo a triste canção Vento no Litoral de Renato Russo servia como trilha sonora.
- Sabe quando seus olhos não alcançam onde o mar termina? Aquela reta bem lá no fundo chama-se horizonte. Essa música é linda. Talvez a mais linda de todas...- ele disse.
Não sabia, mas aquele momento eu levaria para a vida toda.
No meu aniversário de cinco anos, eles resolveram dar uma festa para comemorar com tudo que tinha direito. O churrasco é claro foi indispensável, houve bolo da turma da Mônica e decoração combinando. Chamaram todos os parentes e convidados mais queridos, deixando assim a casa cheia de pessoas que não eram de meu convívio.
Já citei que sou extremamente tímida? No decorrer dos anos melhorei bastante, mas naquela época queria apenas aqueles que eu realmente amava por perto. 
Passei a maior parte do tempo tentando me esquivar de toda aquela agitação e quando chegou o parabéns, não consegui lidar com todos os olhares e atenção. Simplesmente me enfie debaixo da mesa decorada e lá fiquei, como um animalzinho acuado.
Ninguém sabia o que fazer para me convencer a sair dali. Ali foi onde me senti segura, e tornei meu refugio. Claro que meu pai, notando todo o alvoroço e meu desespero, se abaixou e falou mais uma vez com uma calma impressionante:
- Filha, todos que estão aqui são amigos, ninguém quer o seu mal e vieram para comemorar junto com você. Quanto mais cedo você criar coragem e sair, mais rápido eles irão embora. Não precisa ter medo. Ficarei ao seu lado.
E então, com toda a coragem que me restava, sai e encarei todos os olhares curiosos e divertidos daqueles que acharam engraçada a cena da menininha tímida escondida em baixo da mesa. Enquanto cantavam, olhei apenas para ele. Meu herói que não soltou minha mão até que estivesse realmente preparada.
Pouco a pouco os convidados foram embora e finalmente pude relaxar e aproveitar o pouco da noite que restava, com minha pequena família. 

Outra coisa que ele amava, era viajar. Não importava para onde. Fosse um bate-volta em campinas para ver meus bisavós e ouvir histórias, um domingo em Embu-Guaçu revendo meus tios e primos de consideração, ou para Ilha Comprida para passar as férias de fim de ano em família. Sempre que queria, colocava a mim, minha mãe e meus irmãos na antiga Parati prata, separava a seleção de sambas, rocks e MPBs no som que só aceitava fitas cassetes e íamos ver o mundo.
Adorava pegar a estrada na manhã de um sábado ensolarado e ver a grande São Paulo ficando para traz, dando lugar ao verde, ao vento nos cabelos e as risadas de uma família feliz. Lembro-me de achar que aquelas esferas de fibras de vidro penduradas nos cabos de redes fossem bolas de basquete que jogaram ali e de alguma maneira acabaram presas. A volta também era gostosa. Viajar a noite dava um frio na barriga e ver as luzes dos prédios da Marginal Tiete se aproximando me faziam pensar “chegamos em casa”. 
Tenho a mesma sensação até hoje.

Meu pai fazia isso com as pessoas, ou pelo menos comigo, transformava momentos simples em grandes histórias. Dono de um silêncio aconchegante e de uma honestidade inspiradora, ele de alguma forma emanava espiritualidade. Nunca fui muito religiosa, mas acredito que ele com certeza tinha uma sabedoria real de um outro plano e por isso sabia aproveitar cada minuto. 

Ele morreu na manhã de um domingo cinzento. Na véspera de ano novo, uniu-se ao azul infinito do mar, deixando para trás recordações no coração de cada um que tocou.

8 de maio de 2015

Sobre Redes Sociais

Não sei bem o que aconteceu com o mundo, muito menos quando as pessoas se tornaram tão fúteis, alienadas e preconceituosas. Apesar de minha pouca idade, lembro-me bem de como eram as coisas antes dessa febre de Facebook, Twitter e até mesmo do Orkut. Para passar o tempo, brincávamos na rua enquanto nossos pais faziam festinhas frequentemente para se divertir em família. Os xingamentos (gordo, magrelo, esquisito, piolhento) eram engraçado para todos, mesmo que magoassem eram perdoados no dia seguinte na hora de escolher do que brincar. 
Traição? Sempre existiu, claro. Mas como agora? Não consigo me lembrar de relacionamentos durando semanas, tão pouco de serem tão superficiais. Os casamentos eram para sempre e ninguém se orgulhava de ter 2, 3, 5 parceiros. Tudo era simples, tranquilo e feliz. 
Pergunto a você, qual foi a última vez que olhou a lua ou um pôr do sol sem a intenção de tirar uma foto para postar no Instagram? Quando foi que amou de verdade e desligou o celular para apreciar cada momento ao lado dessa pessoa? Quando desejou feliz aniversário, dia das mães ou dos namorados pessoalmente sem a necessidade de postar aqueles textos enormes cheios de falsidade? Onde já se viu fazer uma dedicatória a alguém que sequer sabe mexer num computador???? 
Pare um dia para contar quantas pessoas estão no celular num local público, vai se assustar com a quantidade. Eu o fiz e juro, fiquei chocada. Não serei hipócrita de dizer tudo isso sem me incluir na multidão de zumbis escravos da tecnologia, não seria sincero. Contudo, me esforço ao máximo para manter uma relação com as pessoas ao meu redor sem ficar o tempo inteiro olhando o WhatsApp. Li uma vez em algum lugar que a tecnologia aproxima os que estão longe e distanciam os que estão perto. 
Me perguntam sempre o porquê de eu não querer ser mãe. A resposta é simples: nunca colocaria uma criança no mundo para deixa-la ter um Facebook aos 6 anos, dar um tablet de brinquedo aos 3 ou um celular antes mesmo de saber escrever. O problema é que é esse o mundo que vivemos, é o nosso futuro. Cedo ou tarde, meu filho chegaria da escola chorando ao sofrer bullying por ser o único a não ter essas porcarias. O que dizer? Como agir? Como explicar que o mundo sem isso é muito melhor? Prefiro não ter mesmo. Minha escolha é não procriar num mundo no qual sei que não é bom o suficiente, ou melhor, não é mais o que antes poderia ser chamado de lar.

8 de abril de 2015

Apenas mais um desabafo

O que fazer quando a confiança falha, quando o coração aperta e quando sabe-se que a pessoa amada não é inteiramente sua como você é dela? O que falar quando sabemos demais e ao mesmo tempo não temos prova alguma? Como agir quando você ama tanto uma pessoa que é incapaz de acreditar que tal coisa possa vir ou estar acontecendo? Colocar um ponto final seria o caminho mais fácil? Será? Lutar ou lagar, eis a questão.
Dói tanto imaginar a vida sem alguém que amamos, que muitas vezes perdoamos falhas incorrigíveis e por mais que avisemos e nos preparemos para qualquer acontecimento, o baque nos derruba das nuvens onde estávamos. Pergunto-me constantemente se vale a pena viver nesse eterno impasse onde nunca sabemos o amanhã e vivemos no desespero como tentar correr num sonho sem chegar a lugar algum ao mesmo tempo que se teme acordar sem saber o final.

A questão em si é: por que sequer cogitamos a possibilidade de magoar quem amamos enquanto não há reciprocidade? Os porquês não me deixam. Passei a acreditar que qualquer um é capaz de enxergar os milhares de pontos de interrogação que pairam sobre a minha cabeça. A vontade de chutar o balde se iguala ao medo de perde-lo por besteira.