2 de setembro de 2025
Ufa
23 de maio de 2025
Poeira espacial
Me questionaram o motivo de sentir tanta ansiedade quando converso sobre a minha escrita.
Insegurança? Vergonha? Medo?
Acho que um pouco de tudo, na verdade.
Hoje, durante o banho, refleti sobre essa pergunta e cheguei a uma conclusão óbvia, que sempre esteve muito clara, mas que nunca elaborei para externalizar.
Para mim, ter pessoas lendo as minhas palavras é como se eu permitisse que estranhos se sentassem dentro da minha cabeça e enxergassem minha intimidade sem restrições. E, porra, a minha mente é uma bagunça! Como diabos vou organizar minhas ideias para receber pessoas se nem eu mesma consigo entender grande parte delas?
Para além disso, eu sou ciumenta pra caramba com as minhas coisas. São as minhas palavras, a minha mente. A minha bagunça! Tenho pavor de abrir essas ideias e o leitor não compreender a dimensão de cada uma delas, entende?
E sim, eu tenho noção da insignificância dos meus textos, da minha obra. Contudo, quando a interpretação se encaixa, sei que é capaz de bagunçar certezas, tipo um estopim na mente de quem lê.
Pequeno, mas capaz de formar mundos...
Algo como poeira espacial.
21 de maio de 2025
Muscle memory
Voltei.
Não por ter muita coisa para falar, mas por sentir falta de só... escrever por escrever. Sem tanta pressão. Sem querer lucros ou visibilidade. Só escrever.
Então eu voltei.
E talvez eu nem fique.
Enfim, a vida têm sido interessante. Minhas versões anteriores não acreditariam se eu as chamasse para tomar uma cerveja e contasse tudo.
A Bruna adolescente amaria cada uma das histórias e ficaria feliz em saber que finalmente passamos a gostar do reflexo do espelho. Por outro lado, a Bruna dos 20 e poucos, julgaria cada um dos meus atos e, provavelmente, se questionaria em que momento o rock foi substituído por variações de rap que não envolvem Racionais.
É, eu sei. Aos 20 era inconcebível imaginar gostar de diferentes gêneros sem abrir mão da personalidade e blábláblá. Uma chatice.
Ainda assim seria divertido ver essas versões e me orgulhar de dizer que estou exatamente onde queria estar. E, ao mesmo tempo, nunca nem sonhei em chegar.
Isso aqui tá uma confusão danada, tal qual as páginas rabiscadas do meu diário.
Masssss, é de mim para mim. A Bruna do futuro vai entender muito bem o que cada um desses devaneios significa e com absoluta certeza vai gargalhar lembrando de como era meio tola - mas imensamente feliz.
É... talvez eu tenha voltado.
30 de janeiro de 2025
Hag
You were more than I deserve
After all our shame and suffering
I turned my back to everything I really want
And put you first
Get mention and make your skin start to crawl
Started off living in Brooklyn
It unfolded like a dream
Dazzled by the very thought of it
Like the way dreams are supposed to be
I will sleep with it
I will carry them on
And we will lose in the end
Only start the whole pattern over again
Over again
You're happy enough
Are you fully in love
If I'm not the point in carrying on
Why spend half the time indifferent
And the other half lone
I will live with my regrets
Learn from mistakes and be done with them
Start the whole thing
Start the whole thing over again
14 de janeiro de 2025
Drogas
Meu olho tem tremido à beça.
Hoje,
enquanto você estava fora, lidando com o desafio de contar a notícia para a sua
família, eu cozinhei para mim, assisti vídeos que gosto e chorei.
Pensei
em começar a organizar as coisas para a mudança. Ao menos uma parte. Mas não
consegui.
Quando
abri o guarda-roupas e olhei as malas, desabei pelo que parecer ser a milésima
vez só nessa semana. Perguntas como: QUE PORRA VOCÊ ESTÁ FAZENDO DA SUA VIDA,
ecoam na minha cabeça em looping e eu simplesmente não consigo calar todas as
vozes.
Acontece
que essas mesmas vozes ficam quietas durante o dia, quando minha mente está limpa
e consigo pensar com clareza. Sim, eu sei que está ficando batido dizer que as
noites são difíceis. Mas, não sei viver de outra forma se não colocando a bagunça
da minha mente em palavras idiotas em uma página do Word.
Eu
sei que vai melhorar e essa dor vai passar. Para isso acontecer, no entanto, eu
preciso começar a me organizar. A mudança vai acontecer e isso é um fato. Outro
fato é que só de pensar em me mexer fico com vontade de me enfiar debaixo das
cobertas e esperar por seu abraço quentinho.
Por
que tudo é tão mais fácil quando estou no calor dos seus braços?
Por
que é que só encontro abrigo no seu peito?
Que
inferno! Eu odeio ser tão dependente assim.
Só
queria que os dias passassem mais rápido para essa dor desaparecer de uma vez.
Ou que o tempo parasse agora que estou decidida a ficar aqui, no nosso lar.
Queria
tantas coisas...
10 de janeiro de 2025
Decisões
A vida têm sido uma montanha-russa esquisita e muito cruel.
Pela
manhã, eu acordo certa de muitas coisas, com decisões tomadas e com metas
claras para viver o dia da melhor forma possível.
À
tarde, eu me frustro por não ter executado nem metade das coisas planejadas e
me perco em futilidades, procrastinando ou remoendo as intercorrências da vida.
Mas
a noite... A noite é quando o bicho pega. Eu sinto a desesperança e solidão
rastejando por toda minha pele, pinicando e provocando náuseas. É nesse momento
que me pergunto como pude ser tão estúpida em achar que daria conta de viver
assim, sozinha. Como pude jogar fora algo tão especial.
Sim,
havia problemas. E sim, lá pela manhã, eu sabia o que era melhor para mim. À
noite, por outro lado, quando a casa fica silenciosa demais e meus pensamentos
gritam, percebo que a minha versão de mais cedo não sabia tão bem o que enfrentaria
pela frente.
Eu
tento pensar racionalmente e viver focando no depois, na hora em que o sol vai
nascer e levar embora toda essa angústia. Mas o relógio parece discordar e têm
trabalhado em modo lento, levando tempo demais em cada segundo.
Montanha-russa
cruel.
1 de janeiro de 2025
Fim de tarde
Se você estivesse aqui, estaríamos, provavelmente, fazendo a nossa caminhada do pôr do sol.
Quando
eu era criança, gostava de chegar da praia quando sol já estava quase indo
embora, tomar um banho e comer um lanchinho da tarde enquanto minha mãe tentava, desesperadamente, desembaraçar meu cabelo.
Um
pouco mais tarde, na adolescência, eu gostava de voltar para a praia depois do
banho, só para ver o entardecer ali, bem pertinho do mar. Era um momento de
reflexão (ou para espreitar meninos bonitos que pudessem achar poético uma
garota introspectiva). Spoiler: ninguém nunca reparou porque eu era patética.
Já
na fase adulta, nunca me prendi a costumes de final de tarde. Normalmente eu
estava cansada demais para fazer qualquer coisa que exigisse as minhas pernas
ou estava socializando com outras pessoas. Isso quando não me ausentava para
tirar um bom e velho cochilo.
Até
você chegar.
Quando
você começou a frequentar a Ilha, queria te mostrar cada coisa ajudaram a tornar
esse o melhor lugar do mundo para mim. O chalé azul. A lagoa da Coca-Cola. A ponte
caída. A sorveteria. O mar pequeno.
E a cada caminhada, conversávamos sobre amenidades, fofocávamos sobre a vida dos outros participantes da viagem e até discutíamos sobre planos de morar aqui. Sempre com risadas e muito amor.
Como um casal de aposentados que aproveita, genuinamente, a companhia um do outro.
Nesse
exato momento, estou assistindo ao pôr do sol do quintal, sem a menor coragem
de sair para explorar sozinha. Não tem graça sem você. Se eu insistisse, tenho quase certeza de que viraria uma lenda urbana denominada “Chorona do Fim de Tarde” e isso sim
seria tremendamente patético.
Você
ajudou a tornar esse lugar ainda mais especial do que era. Por mais que eu ame cada fase do fim de tarde, arrisco dizer que as nossas caminhadas se tornaram a
minha favorita.
Queria
que estivesse aqui.
6 de novembro de 2023
Domingos
Ela partiu meu coração em mil pedaços com apenas uma frase.
Eu ri sem humor, esperando que a mulher desolada à minha frente estivesse fazendo uma piada de mau gosto. Afinal, como uma informação dessas vem a tona tanto tempo depois sem um spoiler sequer? Não fez sentido. Ainda não faz.
A cozinha desapareceu da minha frente. Minha visão ficou turva, não pelas lágrimas, mas pela enxurrada de memórias sendo destruídas, uma a uma.
Tudo em mim gritou para ela parar de falar, mas nada saiu pela minha boca. Fui incapaz de verbalizar todos os meus sentimentos confusos e nem sei se algum dia conseguirei.
Eu quis desaparecer.
Queria que ela entendesse o meu pedido de silêncio e parasse de repetir tantas vezes que Deus soube o que fez. Deus não sabe de porra nenhuma.
Tudo que eu idealizei por anos foi construído em cima de uma mentira. Meu herói foi reduzido a migalhas numa manhã de domingo assustadora. E eu nem sei o que pensar ou sentir.
Medo? Vergonha? Raiva? Nada faz sentido. Me perdi nas emoções.
A única coisa que pude entender é que estou revivendo um luto que pensava ter superado. A dor veio com tudo e parece que o perdi ontem. Não consigo parar de repassar todas as memórias e entender em qual parte essa informação maldita se encaixa.
Queria desligar meu cérebro e parar de pensar. Queria que ela parasse de falar comigo e me deixasse recolher os caquinhos em paz.
Não consigo deixar de perguntar porquê eu fui escolhida para receber esse peso. Eu já não sofri o suficiente? Por quê esse outro fardo veio para as minhas costas? Eu não o quero. Esse não!
Só esse. Eu imploro para esse não vir pra mim.
Tarde demais. Já está aqui e eu não consigo respirar.
Tudo dói.
Essa ferida foi funda demais. Não sei como cicatrizar.
11 de abril de 2023
Dia 3: O que te deixa triste, ou negativa
Essa é fácil. Eu fui criada na periferia de São Paulo e cresci correndo na rua, brincando de todas as brincadeiras possíveis. Foi uma infância feliz, apesar de ouvir histórias sobre a pobreza, violência e desinteresse do governo pela nossa região. Esses problemas não me afetaram diretamente porque tive a sorte de crescer em um lar estruturado que, apesar das dificuldades, sempre fechou o mês com comida na mesa e crianças na escola.
Já adulta, consegui cursar uma faculdade, ingressar no mercado de trabalho com um bom salário e, aos poucos, crescer na carreira. Mudei para o que chamamos de “depois da ponte” e finalmente conheci a qualidade de vida que um bom bairro pode proporcionar.
Parece uma história feliz, você deve estar pensando. De fato é. Mas, toda moeda tem seus dois lados.
Para mim, a coisa que mais me entristece é perceber como as famílias do extremo sul de São Paulo são negligenciadas. Dói muito perceber que a mesma sorte que eu tive não recaiu sobre as pessoas que cresceram comigo e que um salário mínimo não é suficiente para pagar todas as contas no fim do mês.
Dói ainda mais parar o carro no farol e ver uma criança, que poderia ter sido minha vizinha, pedindo um trocado debaixo do sol quente. Sinto culpa por estar no carro e sinto vergonha de evoluir sabendo que tantas outras pessoas estão em situações tão desumanas.
É curioso como a revolta supera o sentimento de gratidão. Eu poderia discorrer por mais cinquenta páginas sobre a dor que a desigualdade social me traz, mas isso não nos levaria a lugar nenhum. Prefiro encerrar por aqui e manter a esperança de que um dia as coisas mudem para melhor. Tomara.
5 de abril de 2023
Dia 2: Algo que te contaram e você nunca esqueceu
Certa vez, num domingo cinza de primavera, aconteceu um churrasco na casa da minha mãe. Não é novidade esses eventos acontecem até hoje. Este dia, especificamente, ficou gravado na minha memória. Não pela diversão ou comida. Mas pela história que um homem me contou.
Deixa eu te ambientar brevemente: o quintal tinha um ar esverdeado, do tipo que recebeu muita chuva nos últimos dias. O cheiro era de terra molhada, apesar de não ter caído uma gota do céu. As pessoas já estavam se recolhendo, satisfeitas e se preparando para a semana. A música estava melancólica, com trilhas antigas levando o resto do domingo embora.
Foi neste momento que o homem, já alterado pela cerveja, me perguntou se eu sabia o que era o horizonte. Eu, no auge dos 5 anos de idade, não sabia. Ele, com toda a calma do mundo, explicou: “Sabe quando os olhos não alcançam o fim do mar? Aquela reta lá no fundo? Aquilo é o horizonte.”
Nunca me esqueci do significado dessa palavra. Nem do homem que me explicou. Nem da música que tocava.
O homem era meu pai. E ele morreu numa manhã cinzenta no mesmo horizonte do mar da minha imaginação.
14 de fevereiro de 2023
Dia 1: 10 coisas que te deixam feliz
1. Viajar para Ilha Comprida
Desde criança, tenho o privilégio de viajar para a casa do meu avô, na Ilha Comprida, sempre que posso. Em dias de colocar o pé na estrada, não me incomoda ter que acordar antes do sol ou fazer xixi três vezes antes de sair de casa. Amo principalmente as playlists para ouvir enquanto as paisagens urbanas são substituídas pelo ar interiorano. Atravessar a ponte de Iguape para finalmente chegar na Ilha é a sensação mais gostosa do mundo. Só perde para os fins de tarde com o cabelo molhado de mar enquanto espero minha vez de tomar banho rindo das palhaçadas da minha irmã. Que coisa boa poder passar um tempo com quem você ama em um lugar aconchegante.
2. Dias cinzas
Não me leve a mal. Eu amo dias ensolarados e suas infinitas possiblidades. Mas, não tem coisa mais gostosa do que um dia típico londrino. O ar de filmes de drama me dão um profundo aconchego, principalmente quando não tenho compromissos. São em momentos assim que gosto de comer algo quentinho, assistir filmes ou séries com um cobertor, me dedicar à leitura de um livro bom e, principalmente, aproveitar minha própria companhia. Dias cinzas são importantes para renovar nossas inspirações. Mas, poucas pessoas estão preparadas para essa conversa, e eu entendo.
3. Tardes de maio na casa da minha mãe
Tudo bem, poucas coisas na vida são tão gostosas como tomar um café quentinho e fofocar com a minha mãe e minha irmã nas tardes frias de maio. É a coisa que sinto mais falta de morar com elas. A sensação de pertencimento enchem meu coração e mal posso esperar pelo próximo encontro. O pôr do sol costuma encher a cozinha com uma luz dourada encantadora enquanto o cheirinho de pão assando com café passado esquentam qualquer friagem.
4. A rotina do nosso apartamento
Entendo que muitas pessoas não gostam da rotina. Eu amo. Principalmente a constância do meu lar. Os dias são leves e nossos gatos nos divertem mais do que as séries que insistimos em assistir juntos, mesmo brigando para decidir os horários. O riso é frouxo, as conversas fluem e tenho vontade de deixar uma câmera gravando nossos dias, só para mostrar ao mundo que é sim possível ser feliz compartilhando o lar com um amor. Nem sempre nos entendemos, mas as piadas e as músicas são o contrapeso ideal dos conflitos pela louça suja. Cada dia é especial no nosso apartamento. E isso me faz feliz.
5. Churrascos com a família
Seja com a casa cheia das pessoas mais especiais da minha vida ou só um trio de mulheres fofoqueiras, os dias de churrasco na casa da minha mãe com certeza merecem um lugar especial nessa lista. São em datas assim que colocamos todas as histórias em dia, ouvimos as mesmas músicas de sempre e fazemos planos para os próximos feriados. São nessas datas que discutimos problemas, gritamos palavrões, entornamos cervejas e damos risada até o fim da tarde. Em alguns desses dias, relembramos o pai e mantemos sua memória sempre presente. Apesar da saudade, esses momentos nos unem.
6. Algumas futilidades
Nem só de momentos em família consistem a minha felicidade. Existem coisas que ativam mais serotonina do que uma barra de chocolate, como fazer as unhas no salão, uma aula de natação, estar com os cílios e sobrancelhas em dia ou uma simples depilação. Essas pequenas coisas passaram a fazer parte da minha rotina quando comecei a me amar mais. Não posso dizer que superei todas as inseguranças, mas o autocuidado me ajudou a entender que não preciso estar magra para me sentir bonita. E isso é a mais fútil sensação de felicidade.
7. Fotografias
Seja tirar, posar ou olhar fotos antigas, a fotografia tem um significado especial para mim. São através delas que revivo momentos que poderiam ter sido engolidos pelo tempo. É por esse motivo que você sempre vai me ver com o celular apontado discretamente para alguma situação em rolês ou enchendo o saco para tirar uma foto em grupo. Parar um tempo para olhar fotos antigas é, com certeza uma felicidade genuína, mesmo com a melancolia causada pela nostalgia.
8. Planejar e executar
Uma das coisas que minha mente ociosa mais gosta de fazer é planejar coisas. Sejam elas ideias grandiosas ou apenas uma grande faxina no guarda-roupas, sempre ativam meu lado maníaca e empolgada com as possibilidades. Estar parada não é uma opção. Planejar os próximos passos da minha vida me motivam a levantar da cama pela manhã e isso pode ser muito bom ou muito ruim. Por isso, para estar nesta lista, fiz questão de salientar que fazer planos não bastam. Quando eu finalmente consigo executar uma ideia, sinto tanta felicidade que poderia facilmente correr uma maratona. Nada me dá mais alegria do que ver uma lista com ‘checks’ em todas as tarefas.
9. Andar de bicicleta
Apesar de não conseguir manter uma constância, os passeios de bicicleta pelo bairro nunca me causam arrependimento. O vento no rosto, a velocidade, as paisagens e conhecer novas ruas me fascinam. Esse é um item de felicidade que está presente desde a infância, quando meu pai me ensinou a dar as primeiras pedaladas sem as rodinhas e pude experimentar a liberdade. Desde então, já pedalei quilômetros na Ilha e por aqui, no bairro de Veleiros às margens da represa.
10. Ler e escrever
Por último, mas não menos importante, me dedicar a leitura de um bom livro faz com que eu me desconecte de qualquer realidade para viver uma história que não é minha. Ler sempre me inspira a fazer outra coisa que ativa uma grande felicidade no meu cérebro: escrever. Concluir um conto bem escrito, reler e sentir orgulho merece com absoluta certeza estar nesta lista. Nem sempre o conteúdo sai perfeito. Na verdade, quase sempre encontro defeitos que preciso me conter para não corrigir. Mas, reconheço que a escrita é um dom, assim como desenhar, tocar instrumentos, cozinhar ou cuidar do jardim. Esse é o meu dom e, mesmo que não seja bem-feito, está aqui.
6 de janeiro de 2023
Uma carta de amor
Certo dia, fui convidada para o aniversário de alguém em um sítio qualquer cheio de jovens bêbados. Topei, obviamente. Foi nesse sítio que notei pela primeira vez um garoto com o sorriso mais lindo que já vi na vida. Ele carregava uma JBL barulhenta em uma mão e na outra uma latinha de Budweiser.
Uma semana depois, dávamos nosso primeiro beijo. Tudo encaixou. O toque, os lábios, os pelos.
Que sorte a minha ter topado aquele sítio.
Alguns anos depois, eu e aquele garoto - hoje um homem - aceitamos compartilhar a vida. Criamos laços, gatos e dividimos contas. Nossas risadas compensam a tensão da rotina e a felicidade transforma em garoa qualquer tempestade.
Eu amo suas risadas. Amo a forma como seus olhos gentis se espremem durante uma gargalhada causada por um dos nossos gatos. Amo brigar por quem vai lavar a louça ou estender a roupa. Amo brigar com você sobre as meias espalhadas pela casa. Amo passar horas escolhendo uma comida no Ifood ou um filme para assistir. No final, sempre dormimos no começo ou escolhemos um miojo com nuggets. Eu amo a nossa vida.
Acho importante escrever sobre as fases boas também, né? E hoje, depois de um longo dia de dores, pude experimentar, novamente, uma bela dose de amor.
Parafraseando o Edward Cullen, nenhum espaço de tempo com você seria suficiente... comecemos com o para sempre.
Obrigada por tanto.
Com carinho,
B.
5 de janeiro de 2021
Vinte e seis
Minha vida sempre foi regida sob ansiedade e planos para o futuro. Por ser criar metas e sonhos sobre quem eu queria ser, muitas vezes deixei de aproveitar o presente. Na verdade, arrisco dizer que não sei, de fato, viver no presente sem me preocupar com o que virá amanhã.
Evito beber demais com medo da ressaca. Não me permito gastar demais por saber que as contas do próximo mês serão altas. Nunca fiquei solteira por um longo período por insegurança de nunca encontrar alguém legal para dividir uma vida.
O ponto é que eu planejei cada passo até os 25 anos acreditando fielmente que nessa idade teria todas as coisas que sempre sonhei: o corpo lindo, cabelo incrível, carro novo, apartamento, emprego estável e um passaporte cheio de carimbos. Acontece que os 25 chegaram e se foram num piscar de olhos e estou às vésperas dos 26 sem ter riscado nada da lista.
Nunca pensei que chegaria até aqui. Não tenho planos ou sonhos para os próximos anos e ainda não decidi se isso é bom ou ruim.
Sei que o que conquistei até agora, é muito mais do que posso assimilar. De todos os devaneios até aqui, sinto que o que vivo hoje é onde deveria estar. Então, estou ansiosa para saber o que me espera pela frente.
Minha nova meta é criar planos anuais. No próximo ano, quando estiver com os pés nos 27, vou poder olhar para trás, entender o que pude realizar e agradecer com carinho tudo que vivi.
Até lá, vou tentar viver um dia de cada vez, aproveitar minha própria companhia, reclamar menos e tentar ser a minha melhor versão.
Que venha os 26!
2 de dezembro de 2020
Asleep
4 de outubro de 2020
Você
Hoje, depois que você foi embora, tive um dos choros mais sentidos da minha vida. Pela primeira vez, em muito tempo, não consegui abaixar o tom e me preocupar com os vizinhos. Não tive como chorar baixinho. Chorei alto, tentando vomitar a solidão que se enroscou dentro de mim, me impedindo de ter fome, sede ou sono.
Hoje, pela primeira vez em anos, esqueci quem eu sou, onde estou e quais minhas motivações. Caminhei pela casa sem rumo, busquei você em todos cômodos e sufoquei por não te encontrar.
Você foi embora e levou um pedaço de mim junto. Um pedaço essencial que me impede de sorrir.
Eu sei que deveria encontrar paz em mim mesma, saber lidar com a sua ausência, mas o fato é que não consigo. Te ver partindo todos os domingos, me faz morrer um pouquinho a cada semana.
Eu amo você, mais do que um dia imaginei amar. Não vejo a hora de te ver chegando para ficar.
Seu lado da cama sempre estará quentinho, te esperando.
E sim, você estava certo sobre escrever. Sempre está.